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Na miudeza de meu pai, João de Patrício

do Revivendo Esperança PB de João Batista Bastos
FATOS QUE FIZERAM A HISTORIA DE ESPERANÇA.

João de Patrício
Meu Pai era comerciante de Miudezas em Esperança. Foi um dos primeiros comerciantes da cidade. Patrício da Miudeza. Começou com uma bodega na rua do Boi, no final da década de 30. Depois, nos anos 40, passou a negociar no ponto comercial do prédio do cinema São Francisco (O cinema de seu Titico). Posteriormente, na década de 50, mudou a sua loja para a esquina, onde hoje é a Farmácia de Milena. De lá, quase no final da década de 60, comprou um prédio, onde fixou-se definitivamente, com um armarinho de miudezas. Ele dizia: Tem que ter de tudo, só vende quem tem. Baseado nisso, escrevi, em versos, o que a Miudeza de meu tinha pra vender.
  
NA MIUDEZA DO MEU PAI

Na miudeza do meu pai vendia de tudo,
Menos comida, menos cachaça,
Era na rua principal da nossa cidade,
O povo dizia agente procura e acha.

Tinha tudo mesmo! de todo tipo de botão
a agulha, fina e grossa, e de costurar bisaco
Agulha de sapateiro, de crochê e de costurar saco,
Alfinete, broche, colchete e botão de pressão.

Tinha perfume dos mais variados e até Royal Briar,
Sabonete fino e são aristolino pra coceira passar
Talco de pó pra criança e talco pra tirar chulé,
Loção de barba e todo tipo de loção pra mulher.

Kit pra defunto: meia marrom e meia preta,
vela, cordão de São Francisco e incenso,
e se o espírito não me engana eu penso
que tinha fumo de luto em sinal de tristeza.

Enxoval de batizado com um par de meiote branco,
Também leva a vela, perfume de alfazema,
tôca de lã, luvas, e do menino Jesus um emblema,
pra ficar no quadro da parede, junto do santo.

Tinha quite de noiva: buquê e capela,
brinco de ouro ou de fantasia e também aliança,
o noivo trazia no bolso  medida do dedo dela
e fazia questão da qualidade pra ficar de lembrança.

E pra costureira: fita, bico de cambraia e renda,
dedal, tesoura, agulha de máquina e fita métrica,
óleo pra máquina manual e máquina elétrica,
sianinha, inviéis, dedal de plástico pra fazer emenda.

Desodorante mistral e perfume desejo,
incenso 102, brilantina glostora e zezé
pasta kolinos, gessy e branquelejo,
pasta colgate, creme pra espinha de mulher.

Linha zebra, linha urso e linha bispo,
linha de tricô, de crochê e de pescar,
de pescar piaba, traira e até o caniço,
espoleta de papel e pólvora pra caçar,

Era coisa demais e como tinha coisa,
friszo, lápis de sobrancelha e bico de caneta,
sim, boneca de pano e boneco de boina,
calunga que dorme, mamadeira e chupeta.

Pros cabra macho, bala de 38 e cartucheira,
765, bala "U", ouvido de espingarda calibre trinta e dois
faca de sapateiro, canivete e peixeira,
e de cozinha peneira e escorredeira de arroz.

Pra meninada, binquedo de todo tipo,
bola de assopro, bola pelé, garrincha e rivelino,
e, pra encher a bola tinha também o pito,
tênis conga de menina e de menino.

E, pra escola, caderneta, lapiseira e carta do abc,
bico de pena, giz e luza pra escrever,
mata borrão, tinteiro e caneta de pau,
era tanta coisa , tinha até papeiro de mingau.

Também tinha meia soquete para os mais antigos,
gilete azul, pincel, espuma de barba branquinha,
suspensório, cinturão de plástico e de couro pros amigos,
escova de dente dura, média e maciinha.

Esmeril de amolar navalha de aço soligem,
espelho redondo e quadrado, creme pra impigem,
pó de arroz, rouge e camisa de malha,
bolsa de escola, maleta e alça de mala.

Era coisa demais, até comprimido pra dor,
cibalena, cibazol, melhoral e água rabelo,
sonrisal, gaiacol pra dor de dente e anador,
e, se não me falha a memória, tinta pra cabelo.

João Batista Bastos


Em resposta, improvisei os versos seguintes:

Comentando o blog do amigo

Desconhecia do jurista
Esta grande vocação
Poeta! o nobre artista
O escritor João Batista
de Patrício da Miudeza
Procurador, Tratadista
do Direito à razão
Célebre memorialista
que nos brinda com sua narração
Agora vejo que ainda exista
Quem do passado faça vocação.

Rau Ferreira


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