Esperança
é terra de grandes cordelistas e cantadores, de fato ná há duvida: Toinho e
Dedé da Mulatinha, consagrados poetas populares; Egídio de Oliveira Lima,
folclorista, escritor e patrono da Cadeira nº 22 da Academia de Letras e Artes
do Nordeste; João Benedito, cujos versos sobre o tempo foram eternizados por
Câmara Cascudo, e no passado menos distante, temos os irmãos Pichaco que tinham
o dom do improviso, fazendo coco de roda na rua principal e participando do S.
João da Escola Irineu Jóffily.
Em
um antigo cordel (1904) que narra a saga do “Herói do Norte”, a altura da estrofe
de nº 31, o poeta Francisco Batista das Chagas, descrevendo as proezas de
Antonio Silvino, cita o nosso pequeno torrão:
E
entrei, no dia seguinte,
Na
povoação de Esperança.
Na
povoação de Esperança
Dois
macacos eu prendi,
Como
êles não se opposeram
Soltei-os,
não os offendi;
Então
dos negociantes
Os
impostos recebi.
Que
exigi somma guardada
Do
commercio ninguém pense:
Recebi
só os impostos
Porque
isto a mim pertence,
Até
que um dia o governo
De
perseguir me dispen-e.
De
Esperança dingi me
A'
villa de Soledade,
Ahi,
de José do Coito,
(Com quem tenho inimizade)
Eis o registro da nossa pequena Vila, que tanto apraz o
cantador.
Outro
cantador dessas paragens foi Campo Alegre, citado na carta de Ferino de Gois
Jurema a Romano (1891), onde nos versos o velho repentista lembra:
Cheguei na Boa Esperança,
Encontrei o Campo Alegre,
Esse me disse: Seu mal
Estou com medo que me pegue,
Se você já vem mordido,
Por caridade não negue...
Este
teria vivido no Século XVIII na antiga vila de Boa Esperança, tanto que seu
autor faz questão de corrigir: “Deve ter
sido equívoco de Ferino, a cidade é Esperança-PB, e não Boa Esperança”. Mas
sabemos nós que este foi um antigo topônimo do nosso município.
Quanto
aos irmãos Pichaco, eram repentistas de improviso e faziam cantorias na cidade.
Naquele tempo ouvir os cantadores de viola era uma das únicas diversões que
haviam, então a rapaziada se reunia para ouvir os reis da viola: Pedro e Adauto
Pichaco.
Dizem
também que Josué da Cruz (1904/1968) morou por uns tempos em Esperança. É este
que nos falou de João Benedito, citando como um dos “temíveis” cantadores de
sua época.
Em
conversas com João de Patrício a cerca dos cantadores e poetas populares, este
confidenciou que seu pai – o comerciante Patrício Firmino Bastos – vendeu muita
corda de viola para os cantadores que, vez por outra, adentravam a sua loja.
Hoje
a tradição anda meio esquecida e dificilmente vemos repentistas, cantadores e
emboladores de coco nas feiras. A modernidade e outras facilidades afastarem
esses artistas do nosso convívio ao passo que a falta de incentivo talvez tenha
sido o maior inimigo da cantoria popular.
Rau Ferreira
Referências:
-
ALMEIDA, ÁTILA Augusto F. (de). SOBRINHO, José
Alves. Dicionário bio-bibliográfico de repentistas e poetas de bancada,
Volumes 1-2. Ed. universitária: 1978, p. 158;
-
LIMA, Egídio de Oliveira. Os Folhetos de Cordel.
Ed. Universitária/UFPb: 1978.
-
BATISTA, Francisco das Chagas. Literatura popular
em verso. Casa de Rui Barbosa: 1977, p. 83/84;
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