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Reminiscência: A festa da Padroeira


Celebrando e Resgatando*
José Henriques da Rocha

Em um dos noitários da festa dedicada a nossa querida Padroeira Nossa Senhora do Bom Conselho, e logo após a quermesse, passei a dar umas perambulantes voltas pelas Ruas Manoel Rodrigues de Oliveira e a Dr. Solon de Lucena locais escolhidos e privilegiados como sempre para o funcionamento da festa social por se tratarem de ótima localização no mapa urbano. E, olhando para todos os lados me senti como um “Navio no meio de um oceano” numa noite iluminada. Ruas desertas, barracas vazias e parques sem movimento. Sem falar dos jogos de azares “trinta e seis” e “esplandins” (jogo de bozó), além, das barracas de tiro ao alvo, bazares e  lanches que já estavam fechadas.
Encontrei-me posteriormente com seu Antônio da “Eletrônica Barbosa” e José Armando, filho do finado “Geraldo da Cocada” e começamos a conversar sobre a realidade do momento, onde, estes, através dos seus conhecimentos empíricos começaram a discorrer sobre os tempos passados e dos acontecimentos tradicionais, históricos e inesquecíveis que viveram durante todo período festivo no passado. Ah! Bons tempos que só retornam em nossas lembranças tantas vezes adormecidas. As coisas acontecem, o tempo flui de modo inexorável e a gente num processo remisso remanesce tudo.
Era uma multidão passeando de uma rua para outra que se batiam constantemente pela falta de espaço tanto nas calçadas como pelo meio das ruas. Todas as noites de novena tanto a Igreja ficavam totalmente lotada como o pátio que fica a sua frente. Milhares de devotos vinham em procissão  de  todos os sítios da zona rural e dos quatros cantos da cidade em direção ao Santuário Sagrado, alegres, cantando,  rezando e glorificando a Mãe de Deus pelas suas festividades.
 Terminada a Santa Missa todos corriam para ver o famoso Pastoril e as lindas garotas que faziam parte do cordão vermelho e do cordão azul numa espetacular demonstração com cânticos e espetáculos teatrais. Nas tão esperadas  noites de pavilhão Esperança em peso se fazia presente. Todas as autoridades civis, militares, judiciais e religiosas do município eram convidadas para sentar-se as mesa para contribuírem com a festa através de suas participações nos dos leilões, nas bebidas e comidas. Os “Executivos” faziam questão de participarem e colaborarem, além, de serem os convidados especiais para assumirem o cargo de paraninfos das lindas garçonetes, estas, que todas as noites tinham um paraninfo diferente e, eram convidados aqueles que tinham realmente um poder aquisitivo relevante para ajudá-la a ser a Rainha ou Princesa, pois, ser Eleita á Rainha ou à Princesa da Festa, não era pela sua boniteza ou elegância, mas, era aquela que mais vendia e mais apurava.
Falar da festa social é falar da inesquecível  barraca de cachorro quente de seu “Olívio Damião” e do seu Parque. Da barraca de cachorro quente de Manoel Freire, mais conhecido por “Manoelzinho da Barraca”. Do famoso “Parque Maia” que além das diversões tinha um serviço de som altamente espetacular que abria a festa, e tinha como operador um Sr. Conhecido por “Luiz” que possuía uma brilhante voz, onde, saudava e acolhia todas as autoridades esperancenses, visitantes, e convidados, e todos que o escutava ficavam encantados com a sua magnífica saudação e acolhida. Quem não se lembra dos “jipinhos” de seu Edinho que só participavam criancinhas.
Existia, também, a “Barraca de Música”, que tinha como locutor um Sr. de nome “Ruy”, que colocava as músicas a pedido. Eram bregas e músicas românticas, onde, as pessoas se dirigiam ate ela e pagavam para oferecer alguma música para alguém que estava totalmente apaixonado. Os “LPS” ou os Discos de: Evaldo Braga, José Ribeiro, Roberto Carlos, Carlos Alexandre, Elino Julião, João Gonçalves, Marinez, Roberto Leal, Waldick Soriano e outros cantores que faziam sucesso naquele momento. Contam que uma tal pessoa foi ate esta barraca e colocou a música “O Senhor da Floresta” que fala da historia de um “Índio Bravo e Guerreiro” para um certo homem que tinha a fama de ignorante nesta cidade e, este,  que passeava por aquela rua, ouvindo-a, veio ate a barraca tomar satisfação com “Ruy” e, só não derrubou-a, quebrou a Radiola nem lhe bateu por intervenção da policia que foi chamada imediatamente.
Que não se lembra das “trinta e seis” de “Goteira,” de “Coleguinha”, de “João Jaburu de Remigio”, de Bibla de Solânea, de “Mané Oião”, de Santo Timóteo, que tinham como fregueses certos e famosos para todas as noites de festa seu Luiz Martins, Antonio Dias, Cristovão Pessoa, “Zezito da Banca” e outros. Também, funcionavam os “esplandins” (jogos de bozó) de “Lola”, do “Gago”, do finado “Lêla”, de “Mané Cachorrinha”, de seu “Luiz Gonçalo de Lagoa de Pedra”. Principalmente, o mais frequentado  era o do “Gago” que tinha como participante oficial daquele jogo de azar, Dr. João Bosco que atochava em um, dois, e até três dos seis números e, o “Gago” ficava se tremendo para levantar o funil, onde, tinha noite de alisar os bolsos e sair com a mesa na cabeça. Quem não se lembra da “Mala de Abel” que enchia de rolo de papel e colocava em um dos rolos varias notas de dinheiro para ver quem “acertava” tirar no meio dos outros rolos. Ah! Quanta tapeação!
Do ônibus sucateado que se transformava numa “sala – vídeo” e chamavam de barraca da “Bela e da “Fera”, ou seja, a “Monga – A Mulher que vira Macaco”. Uma jovem linda se apresenta com roupas intimas e aos poucos se vira num macaco, que, furioso, começa a balançar as grades da jaula que se encontra e, os assistentes ficam a flor da pele com a fúria do “animal” na escuridão do teatro ambulante.
Existia também, a barraca do “Espelho Mágico”. Eram dezenas de espelhos colocados dentro de uma barraca, que, ao passar por eles transformavam as pessoas, que ficavam gordas, magras, bonitas, feias. Enfim, era um verdadeiro sucesso por que mudava toda estética do corpo.
O “parque das ondas” e o “espalha brasa” do Sr. Elias e do Sr. Argemiro, irmão de seu “Deda Quilodino”, que lotavam todas as noites festivas e ia ate altas horas da madrugada pela excelente diversão sadia e empolgante para todos os participantes que procurava.
Fascinava-me, também, a retreta da festa tocada pela banda de música.  Era outro momento importante que estava inserido dentro da programação da festa da padroeira nos anos passados. A banda saia pela rua Manoel Rodrigues indo e voltando ate o pátio da igreja matriz tocando e animando para todos os participantes da festa e tinha como acompanhante principal seu “Luiz de Tiano” grande admirador de orquestras e retretas musicais.
Lembro-me de modo bem nítido que naquela época  quem tinha mais dinheiro ia lanchar na barraca de seu Olívio Damião ou na de Manoel Freire, pois, estes, ofereciam um excelente cachorro quente com coca cola ou guaraná. Já, quem tinha pouco dinheiro ia para uns banquinhos de comida que ficavam embaixo da balaustrada na Solon de Lucena, onde, eram oferecidos uma caprichada “rodinha de pão” que colocava em cima uma colher de picado ou de um pedaço de galinha de capoeira acompanhados de garrafinhas com “ponche” ou  o famoso “ki-suck” de morango” que chamavam de “sangue de morcego”, além da cachaça brejeira e da temperada feita com raízes vegetais tão procurada pelos paupérrimos agricultores que saboreava antes de se dirigir para suas casas.  E, tinham como uma das donas dos banquinhos  dona Luzia irmã do finado Lela.
Na praça Getúlio Vargas se concentravam os famosos engraxates da cidade, um deles, conhecido por “Kudu” que tinha uma excelente freguesia para dar um lustre no seu pisante. Também, “Pedro Pichaco” que contava suas aventuras e anedotas a todos que se faziam presente. 
Era um “Lírio Verde da Borborema” bem mais pacato, mais sossegado. “Recordar é Viver” como lembra uma velha marchinha carnavalesca. Sempre procuro volver o pensamento ás coisas boas usufruídas no tempo pretérito e minha retentiva as preserva bem.

(*) José Henriques da Rocha

Fonte:
- FOLHA DE ESPERANÇA, Jornal. Ns. 16 e 17, Ano III. Edições de Fev/ Março. Esperança/PB: 2012.


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