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Carta do Padre Zé

Foi o sr. Antonio Barbosa, memorialista de mão cheia que reside em Esperança e possui um museu particular do som e da imagem da cidade, alvo de inúmeras reportagens a esse respeito, que me franqueou uma edição do Jornal da Paraíba em que foi publicada uma carta do Padre Zé.
Está na coluna do Rubens Nóbrega com o título “O exemplo de Padre Zé” a missiva endereçada ao Monsenhor Palmeira, datada de 27 de novembro de 1972.
Entre outras tantas, o articulista imprime a sua opinião precisa destacando a sua benevolência pelos pobres da nossa pequenina Paraíba, a qual destaco a frase: “Fazer bem ao próximo era a razão de ser e viver do Padre Zé. E até por isso foi que ele deixou de comparecer à festa com que o povo de Esperança se preparava para homenagear o Monsenhor Palmeira no final de 72”.
De fato, naquele ano a cidade homenageava o padre Manuel Palmeira da Rocha, que administrou a paróquia de Esperança de 1951 à 1980. Este pároco foi responsável por grande parte do desenvolvimento do nosso município.
Em face da relevância histórica desta correspondência, reproduzimos pois o seu conteúdo neste blog:
Carta ao Monsenhor Palmeira
João Pessoa, 27 de novembro de 1972.

Caríssimo Colega e Amigo
Monsenhor Manoel Palmeira da Rocha
Esperança – Paraíba

PAZ EM JESUS!

Estou contentíssimo porque a minha querida Terra Natal vai homenagear o grande Apóstolo do meu povo e da minha gente, durante tantos anos, da melhor maneira.
Tudo que se fizer por você é muito pouco, porque você é extraordinariamente caridoso, falemos em termos mais claros, verdadeiro Santo, que praticou totalmente o Evangelho, passando a vida inteira fazendo o bem.
Não fossem meus males físicos e principalmente minha pobreza, eu iria à sua Festa.
Mas, só viajo na boléia de uma camionete, com minha cadeira de rodas em cima, com quatro rapazes, que aqui no Instituto São José chamam de motoristas, para não ficar aí no meio da rua, sem poder me locomover para parte alguma.
Existe, porém, uma razão séria ainda que me impede de ir – a minha responsabilidade financeira: para pagar Cr$ 13.000 (treze mil cruzeiros) em média por mês, recebendo do Poder Público e outras fontes apenas Cr$ 6.000 (seis mil cruzeiros), tenho que arrecadar Cr$ 7.000 (sete mil cruzeiros) de esmolas.
Aqui na Capital, já estou feito, e a minha renda pessoal é de Cr$ 100 (cem cruzeiros) todo dia, agora as mensalidades, promessas etc. que rendem mais do que outro tanto, não podendo perder um só dia de constantes peditórios, sob pena de acumular minhas dívidas.
Pedirei ao Prefeito Antônio Coelho Sobrinho, a quem vou fornecer uma cópia desta carta, pois desejo que ele e seus amigos saibam do Alto Juízo que faço a seu respeito e os sérios motivos porque não vou à Festa, que julgo a maior, que pode ser feita pela Comunidade Esperancense, embora você mereça muito mais.
No domingo seguinte, celebrarei por sua felicidade pessoal e, antes do Evangelho, focalizarei a felicidade que tem a minha Terra Natal em possuir tão modelar Pároco. Pedirei ao povo uma prece por você, a ser rezada por ocasião da Oração dos Fiéis.
Agradecendo antecipadamente a atenção que o Prezado Amigo prestar a esta carta, subscrevo-me sinceramente.

Monsenhor José da Silva Coutinho
Diretor do Instituto São José”.


Padre Zé era sim um exemplo a ser seguido, em especial o seu desprendimento em favor dos pobres. E Monsenhor Palmeira, igualmente, como grande administrador que fora em nosso favor.

Rau Ferreira 

Fonte:
- PARAÍBA, Jornal da. O exemplo de Padre Zé, texto de Rubens Nóbrega. Domingo, 24 de julho de 2011.

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