O São João é a festa nordestina de maior tradição. Silvino Olavo em seu 2 livro de versos [1] dedica-lhe um longo poema em que descreve em detalhes o seu ritual:
Na “Noite de S. João”, considerada “santa”, fogões e balões evocam uma mensagem em homenagem ao padroeiro do mês junino.
As senhoras entoam suas novenas nas vozes mais bonitas. As moças vestidas de “chita” experimentam adivinhações e desejam ver refletida n'água o seu predestinado; mas pranteiam desconsoladas quando não lhe veem o rosto do amado. Os homens, erguendo o mastro, demonstram a sua força sem se importar com as crianças a brincar no terreiro bem varrido.
Fogueiras são acesas e nas suas brasas o milho arde. Os jovens se dão por compadre e comadre cispando-lhe as cinzas do alto, enquanto outros passam-lhe os pés descalços em sinal de fé. E um menino adentra correndo a sala, feliz por haver vencido igualmente o desafio.
O poema gira em tom romântico e bucólico fiel a sua vertente parnasiana. Na sua visão o religioso (novenas) e o místico (adivinhações) não se contrapõem, guardado o devido tempo. Aliás este fator é uma preocupação que se desenvolve na sua poética pois o autor segue além da métrica um ritmo de fatos e acontecimentos. Separa as pessoas em grupos – senhoras, donzelas, homens e crianças – cada qual no seu fazer, na sua obrigação. Tudo isto sob o olhar atento de uma mãe que é todo ouvidos a inocência do filho que relata a façanha realizada por sob a fogueira. A ela, certamente, é confiado o preparo das comidas, como o verde espigo que arde no lenho em brasa.
O balão, fazendo-nos olhar para o céu, traduz a mensagem dos que festejam o santo do dia e representa a luz que por mais efêmera que seja os ilumina.
O brilho dos folguedos, o calor natural e humano da época, a convivência em família e as coisas do amor alegram a feliz comemoração.
Rau Ferreira
Fonte:
- [1] “Noite de S. João”, poema de Silvino Olavo. in: Cisnes/ Sombra Iluminada. Esperança/PB: 1985, p. 137/138.
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